Síndrome de Pandora é um termo relativamente recente e mais coloquial para um conjunto de distúrbios psiconeuroendócrinos, inflamatório e não infeccioso, resultantes da Cistite Intersticial Felina. Ela atinge, além da bexiga e do trato urinário, o sistema nervoso central e o eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal. Parece complicado né? Mas vamos explicar melhor.
Dentre as diversas Doenças do Trato Urinário Inferior dos Felinos (DTUIF), acredita-se que a principal delas atualmente seja a Cistite Intersticial Felina (Cistite Idiopática).
A Síndrome de Pandora também pode ser conhecida como síndrome da bexiga dolorosa, por ser uma doença crônica e complexa que envolve inflamação e irritação da bexiga e do trato urinário, resultando em muitas dores e incômodos para o gatinho. É uma doença que atinge principalmente gatos adultos, de meia idade ou geriátricos, de ambos os sexos.
Sintomas e sinais clínicos da Síndrome de Pandora
Os sintomas e sinais clínicos da cistite intersticial felina podem variar, mas geralmente incluem:
- Aumento da frequência de micção: Os gatos podem urinar com mais frequência do que o normal, geralmente em pequenas quantidades.
- Urinar fora da caixa de areia: Devido à dor e desconforto associados à micção, os gatos podem urinar fora da caixa de areia.
- Presença de sangue na urina: A cistite intersticial pode causar sangramento na bexiga, o que resulta em urina com coloração avermelhada ou presença de sangue visível.
- Esforço ao urinar: Os gatos podem mostrar sinais de esforço ao tentar urinar devido à irritação na bexiga, ficando mais tempo parado na posição de xixi e demonstrando que está fazendo força com os músculos para urinar.
- Miados excessivos: Alguns gatos podem vocalizar mais do que o normal devido à dor e desconforto associados à cistite.
Fatores que podem aumentar os riscos do desenvolvimento da síndrome de pandora
Gatos que são expostos a determinados fatores ambientes apresentam risco aumentando para o desenvolvimento da Síndrome de Pandora. Entre os fatores mais relevantes a serem observados pelos tutores estão:
- Estresse
- Obesidade/falta de atividade física
- Ambientes pouco atrativos e/ou barulhentos
- Alimentação estritamente a base de ração seca ou com pouco sachê
- Divisão de território e conflitos com outros felinos
- Manejo inadequado das caixas de areia
- Quantidade e manejo errados de potes e fontes de água
- Interação com pessoas estranhas quando mais assustados ou antissociais
- Mudanças repentinas de ambiente
Observe que alguns desses fatores podem ser facilmente controlados ou minimizados pelos tutores:
- Uma alimentação balanceada composta por alimentos secos e úmidos
- Muitos potes de água e fontes espalhados pela casa
- Gatificação do ambiente (promove bem-estar, reduz o estresse e estimula a atividade física)
- Uso de feromônios sintéticos (Feliway): no caso de ambientes com outros gatos, em mudanças de ambiente (passeios, mudança de casa, reformas domésticas, ida ao veterinário) e quando o gato terá contato com estranhos (visitas em casa, por exemplo)
- Caixa de areia: em quantidade adequada ao número de gatos na casa (sempre com 1 caixa a mais do número de gatos), limpeza diária, escolha de uma areia de boa qualidade e que o gatinho se adapte bem. Essa questão da escolha da areia é tema para outra conversa!
Diagnóstico da Síndrome de Pandora em gatos
O diagnóstico da cistite intersticial felina é feito através da exclusão de outras possíveis causas dos sintomas urinários. Além do exame físico completo e da anamnese (coleta do histórico detalhado do paciente), é necessário a realização de diversos exames, tais como: análise de urina, cultura bacteriana, hemograma, radiografias ou ultrassonografia, a fim de descartar outras condições, como infecções urinárias, cálculos na bexiga, obstrução ou tumores.
Tratamento da Síndrome de Pandora em Felinos
O tratamento da cistite intersticial felina é multifacetado e pode variar dependendo do gato e da gravidade dos sintomas. Geralmente, o tratamento envolve uma combinação de medidas, tais como:
- Alívio da dor: através do uso de medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios e terapias adicionais como acupuntura, laserterapia e magnetoterapia.
- Dieta adequada: alimentos formulados especificamente para gatos com problemas urinários, como aqueles que promovem a hidratação adequada e têm um equilíbrio adequado de minerais.
- Aumento da hidratação: estimular a ingestão de água é importante para diluir a urina e diminuir a irritação na bexiga. Isso pode ser feito oferecendo água fresca e limpa em diferentes locais e considerando o uso de fontes de água ou alimentos úmidos.
- Medicamentos específicos: em alguns casos, o veterinário pode prescrever medicamentos como antidepressivos, relaxantes musculares ou suplementos para ajudar a controlar os sintomas.
- Fluidoterapia: em alguns casos, seja por desidratação ou outras condições clínicas (como pacientes com doença renal crônica) pode ser indicado a realização de fluidoterapia.
- Manejo do estresse: seguir os cinco pilares do bem-estar felino (criação de um ambiente tranquilo e gatificado, introdução de brinquedos e atividades enriquecedoras, uso de Feliway (se necessário), entre outros).
É importante destacar que, devido a sua complexidade e aumento do risco por fatores ambientes, a Síndrome de Pandora ou Cistite Intersticial Felina apresenta alta taxa de recidivas (entre 35 e 50%), requerendo do tutor dedicação diária para garantir o bem-estar do gatinho.
Por que Síndrome de Pandora?
Esse termo faz alusão à “Caixa de Pandora” da mitologia grega, uma caixa, que continha todos os males desconhecidos pelos homens (doenças, guerras, ódio etc.) e foi entregue a Pandora, com a recomendação de que nunca fosse aberta. Pandora, no entanto, abre a caixa e deixa todos os males sair, conseguindo manter dentro dela apenas a esperança. Quem cunhou esse termo foi o Dr. Tony Buffington em 2011.
Referência:
Teixeira K. C.; Vieira M. Z.; Torres M. L. M. Síndrome de Pandora: aspectos psiconeuroendócrinos. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 17, n. 1, p. 16-19, 8 maio 2019.
FERNANDES, C. M. S. Síndrome de Pandora: prevenção e tratamento – revisão sistemática. Trabalho de conclusão de curso (TCC) – Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Araçatuba, 2017.