A Doença Renal Crônica (DRC) em gatos é uma condição comum, incurável e progressiva que se desenvolve ao longo do tempo, o diagnóstico precoce permite que progressão seja controlada, retardando a evolução das lesões renais, aumentando e melhorando a qualidade de vida do gatinho.
Já temos um artigo aqui no blog ( Gato Renal: causas, sintomas, diagnóstico e tratamento da Doença Renal Crônica ) que explica quais as principais causas, como se dá o diagnóstico e o tratamento, neste artigo vamos focar nos estágios de progressão da doença, nosso objetivo é auxiliar o tutor de um gatinho com DRC a entender como se dará o monitoramento, tratamento e evolução, assim você poderá conversar com seu médico veterinário com mais esclarecimento, o que observar no cotidiano do gatinho e as necessidades que ele terá ao longo da sua vida.
A progressão da DRC em felinos
A progressão da doença é geralmente dividida em 4 estágios, cada um representando diferentes graus de comprometimento da função renal. A classificação dos estágios é frequentemente baseada em marcadores como a taxa de filtração glomerular (TFG), obtida através das concentrações séricas de creatitina, no exame sanguíneo, com o gatinho em jejum e hidratado e posteriormente com alterações de outros marcadores como potássio, fósforo e demais sinais clínicos.
Lembre-se que o gatinho renal pode ter uma vida longa e feliz com você, especialmente se a doença for detectada em seu início e o tratamento for realizado seguindo as recomendações do médico veterinário.
Estágio 1: Diminuição Leve da Função Renal
A função renal ainda está relativamente normal, os sinais clínicos podem ser imperceptíveis para o tutor (discreto aumento no volume da urina ou na ingestão de água), a melhor forma de identificação é com o exame sanguíneo, exame de imagem (ultrassom) e biópsia.
Neste estágio inicial é recomendado o acompanhamento em 2 ou 3 exames com algumas semanas de intervalo para confirmação do diagnóstico.
O tratamento neste primeiro momento envolve manter o gato hidratado, com grande acesso à água limpa em diversos pontos da casa, se possível com água corrente e fresca.
Em animais que comecem a apresentar desidratação pode ser necessário a hidratação por soro ou fluidoterapia.
Já é recomendado também a utilização de rações específicas para gatos com doenças renais, além de oferecer com maior frequência alimentos úmidos.
Alguns gatinhos podem já apresentar subquadros da DRC como proteinúria ou hipertensão, sendo necessário nestes casos a entrada de medicação oral.
Estágio 2: Diminuição Moderada da Função Renal
As alterações dos marcadores de creatinina se tornam mais relevantes e perceptíveis já no primeiro exame sanguíneo (creatinina sérica entre 1,6mg dL-1 a 2,8mg dL-1). Neste estágio o tutor já começa a perceber alteração no comportamento do gato, seja no consumo excessivo de água (polidipsia) ou no excesso de urina (poliúria).
Alguns gatinhos já começam a apresentar perda de peso, apetite seletivo, inflamações no trato urinário e formação de pedra nos rins (identificado através de ultrassom).
Os casos de desidratação pontual se tornam mais frequentes, especialmente se houver algum quadro de diarreia, constipação ou anorexia. Sendo necessário a hidratação por soro ou fluidoterapia.
É preciso também ficar atento a outras alterações como acidose metabólica e hipocalemia, já se nota também alterações nos exames sanguíneos de fósforo.
Alguns gatinhos podem já apresentar subquadros da DRC como proteinúria ou hipertensão, sendo necessário nestes casos a entrada de medicação oral.
Já há risco de obstruções urinárias, então é preciso ficar atento, seguir as orientações do médico veterinário e fazer consultas regulares.
O tratamento envolve a manutenção da hidratação e da dieta adequada, acompanhamento regular e, se necessário, medicamentos orais e fluidoterapia.
Estágio 3: Diminuição Significativa da Função Renal
Nesta fase, além do já relatado no estágio 2, inicia-se as manifestações sistêmicas da perda da função renal, os marcadores de creatinina sérica sobem para valores entre 2,9mg dL-1 a 5,0mg dL-1, além de se tornar mais marcante as alterações nos exames de fósforo e potássio. Também é comum o aparecimento de anemia.
No estágio 3 a desidratação se torna crônica, com alto volume de urina, sem consumo de água compensatório de forma oral, sendo necessário muitas vezes a realização de fluidoterapia regular (Ringer com lactato ou NaCl – fisiológica 0,9% subcutânea).
Qualquer alteração de saúde (náusea, vômito, diarreia, estresse) vão provocar grande impacto na hidratação, sendo necessária intervenção médica hospitalar para compensação. A falta de apetite se intensifica, bem como a prostração e fraqueza.
É preciso manter o controle alimentar, medicamentos orais e suplementação de vitaminas e minerais conforme constatados em exame sanguíneo.
Estágio 4: Insuficiência Renal
Último estágio da progressão da DRC em gatos, conta com marcadores séricos acima de 5,0mg dL-1, perda importante da função renal, já relacionada à falência renal, apresenta outras alterações gastrointestinais, neuromusculares e cardiovasculares.
Todas as alterações dos 3 estágios anteriores se tornam mais proeminentes e marcantes, pode ser necessária a nutrição enteral (sonda) ou parenteral (venosa), pode ser realizada hemodiálise, mas é preciso ciência de que se trata de melhora temporária e tratamento paliativo.
O monitoramento da DRC em felinos
Há de se ressaltar que, após o diagnóstico da Doença Renal Crônica em felinos, o acompanhamento pelo médico veterinário, bem como os exames de sangue, urina e ultrassons, se tornam ainda mais constantes.
Após o diagnóstico a frequência de consultas deve seguir um novo parâmetro, especialmente por se tratar, na maioria dos casos, de animais de meia idade, idosos ou geriatras. (como já explicamos no artigo sobre Idade dos gatos e Check-ups).
- Estágio 1: consultas e exames a cada 6 meses (após os 3 exames iniciais de diagnósticos realizados com intervalos de 15 a 20 dias)
- Estágio 2: consultas e exames a cada 3 ou 4 meses
- Estágio 3: consultas e exames a cada 3 meses
- Estágio 4: monitoramento constante e cuidados paliativos
A DRC em gatos é uma condição complexa que exige cuidado contínuo e personalizado. A detecção precoce e a intervenção adequada podem ajudar a retardar a progressão e melhorar a qualidade de vida do gato afetado.
É justamente por isso que não podemos determinar o tempo de progressão, não é possível dizer quanto tempo (em semanas, meses ou anos) um gatinho permanecerá em um dos estágios antes de progredir ao seguinte.
Mas não podemos esquecer que, em estágios avançados, a qualidade de vida do gato deve ser uma consideração primordial. Discussões com o veterinário sobre opções de tratamento e tomada de decisão ética são essenciais.
Referencias:
WAKI, Mariana Faraone et al. CLASSIFICAÇÃO EM ESTÁGIOS DA DOENÇA RENAL CRÔNICA EM CÃES E GATOS: ABORDAGEM CLÍNICA, LABORATORIAL E TERAPÊUTICA. Clínica e Cirurgia. Cienc. Rural 40 (10). Out 2010. Disponível em https://doi.org/10.1590/S0103-84782010005000168
MAZUTTI, Monique Luiza da Cunha; FERREIRA, Ana Bianca Gusso. DOENÇA RENAL CRÔNICA EM GATOS: A IMPORTÂNCIA DOS ESTADIAMENTOS E DO DIAGNÓSTICO PRECOCE: REVISÃO DE LITERATURA. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária FAG. v.4. n.1. 2021. Disponível em https://themaetscientia.fag.edu.br/index.php/ABMVFAG/article/view/400/495